Henrique e Dalila Procuram
o Primo Escandinavo
("-" são falas do Henrique e "=" da Dalila)
Dalila dormia e sonhava que estava no mesmo hotel que o Pelé, numa ilha fictícia mas que no sonho era muito famosa, e no sonho dela o Pelé era desejado por todas as mulheres. Nada poderia ser melhor do que ter o Pelé para si. Ela vai no restaurante do hotel, onde os garçons andam nus, plantando bananeira, e também literalmente plantando bananeiras: de cabeça para baixo, eles põe sementes de bananeira em vasos de terra, e elas crescem instantaneamente. Mas, no sonho dela, "bananeiras" na verdade são pés de bergamota, e os hóspedes colhem as bergamotas e comem (o restaurante se resume a isso). Entre os hóspedes colhendo bergamotas, amigos de infância de Dalila que ela não vê há muitos anos (todos nus). Um deles, de São Paulo, discute com outro, de Pelotas, se o certo é Bergamota ou Tangerina (note que nesta altura do sonho já foi esquecido que eram pra ser bananas). De repente, milhares de mulheres lindas estão gritando, muito empolgadas com alguma coisa. Todas elas estão nuas e gritando muito alto, histericamente. Milhares? Sim, agora todos estão em um enorme estádio (óbvio!) e ninguém mais lembra que antes era um restaurante de um hotel. Do meio dessa multidão aparece o Pelé, o motivo da histericidade de todas aquelas mulheres. Ele vem fazendo balõezinhos com uma bola de futebol e é o único vestido. Ele colhe uma bergamota (mas já não tinham saído do restaurante?!?) e vai andando em direção a alguém para oferecer esta bergamota. E justamente pra quem? Quem?! Quem, meu Deus?!?! Para Dalila! Ele estende a mão para ela e diz:
-Dalila! Acorda logo que café da manhã não é vinte e quatro horas, sabia?!
Era o Henrique. Nem precisa dizer que ela passou o dia de mau humor.
Henrique e Dalila estavam em um hotel em Caxias porque um primo distante do Henrique veio para o "I Congresso Mundial de Aplicações do Modo Mixolídeo no Século XXI". Eles tomam o café da manhã e vão para o congresso procurar o tal primo. Chegando lá, num grande centro de eventos, há estandes, praças de alimentação, locais para mini-cursos, locais para cursos grandes, um anfiteatro enorme, vendedores ambulantes e muitas, muitas pessoas de todos os tipos caminhando pra lá e pra cá.
=E agora? Como vamos achar o teu primo? Será que é fácil reconhecer alguém da Nova Zelândia? Digo, Finlândia?
-Suécia.
=Suécia!
-Vamos ver. Tem essa área de eventos aqui, e tem o centro de convenções, mais pro lado de lá.
=Mas ele tá aqui? Ou ele tá lá?
-Acho que tá, sim.
=Mas onde?
-O quê?
=Ele!
-Ele o quê? Não ouvi o que tu falou, bocejei bem na hora.
=Ai meu Deus...
-Que foi Dalila?
=Henrique, onde tá teu primo?
-O quê?
=ONDE TÁ TEU PRIMO?!?!
-Ããããle!! Não precisa gritar também! Pra que esse ódio todo no coração?
[Dalila respira fundo]
=Henrique: o teu primo tá aqui? Sim ou não?
-Sim!
=Tá. Onde ele tá?
-AQUI! Tá surda?!?
=Mas aqui aonde?!?
-Ah, aqui aonde tu quer saber?
=SIM! EU QUERO SABER AQUI AONDE!!!
-Bom, sei que ele chegou ontem.
=Aonde?
-No Brasil, ué!
=MAS É ÓBVIO QUE ELE TÁ NO BRASIL! EU QUERO QUE A GENTE ENCONTRE ELE DE UMA VEZ E PRA ISSO PRECISO SABER EXATAMENTE ONDE ELE ESTÁ!
-Tá, Dalila: vou consultar meus satélites da Nasa e te digo precisamente a latitude e a longi-
=PORRA HENRIQUE! MAS QUE MERDA!!!!!
-Shhhhhiu!! Não tá vendo que tá todo mundo olhando pra ti? Olha aquele sueco ali, tá até rindo de nós agora! Te comporta, fassuavor.
=Sueco?
-Bah! Deve ser o meu primo! Vamo ali.
[Henrique vai falar com ele em inglês, idioma que Dalila não domina]
=E aí, era ele?
-Era o Larson, sim.
=Bah! Mas e por que não tá mais falando com ele?
-É que na verdade ele não é o meu primo.
=Era outro Larson?
-É. Na verdade ele é mesmo o Larson que eu vi inscrito no congresso, mas não é o meu primo. Na verdade ele disse que metade dos suecos se chamam Larson.
=Mas como tu não teve certeza disso antes de fazer a gente vir de Porto Alegre só pra isso?!?
-Pô! Não conheço nenhum outro Larson, é um nome esquisitíssimo. Pensei: tem um "LARSON" nesse congresso; eu tenho um primo chamado "LARSON"; meu primo deve estar nesse congresso! Ainda mais que os dois são suecos. Como eu ia saber que metade da Suécia se chama Larson?
=Mas tu não viu que era outro sobrenome?
-Mas meu primo não tem o meu sobrenome. É que não é assim PRIIIIMO, sabe? Não é primo-irmão. A minha tia-avó tem uma sobrinha emprestada que é meia-irmã de uma mulher que foi pra Suécia e lá se casou com um sueco.
=E esse sueco é o teu primo?
-Cunhado da ex-mulher desse.
=Tu me fez VIR ATÉ CAXIAS nessa MERDA de congresso pra encontrar um... um... NEM SEI O QUÊ! E NA VERDADE NEM ERA ELE!!
-Tu tens inveja, cara Dalila, pois tua família não tem ramos da árvore genealógica estendidos no além-mar, assim como a família desse que vos fala.
=AAHHHH!!!! EU TE ODEIO!!!!! PEGA ESSE ALÉM-MAR, ENROLA E-
-Dalila!! Não deixeis a inveja tomar conta de ti.
[Dalila perdeu todas as paciências que tinha. Se virou de costas e saiu.]
-Onde tu vai?
=Vou ver se pelo menos descubro que que é essa merda de Modo Mixolídeo.