Digo (digo mesmo)



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quarta-feira, março 02, 2005

Desentendimentos de Henrique e Dalila


("-" é Henrique e "=" é Dalila)

Henrique:
-Bom dia!

Dalila:
=Bom dia?? Sabe o que que eu penso desse dia? Tomara que peguem ele pelos cabelos, pendurem-no de ponta-cabeça numa árvore, arranquem os seus--

-Nossa! Nunca tinha percebido como a palavra "ponta-cabeça" é esquisita.

[Ela vira os olhos pro lado e tremelica um pé, mãos na cintura.]

-Ponta, cabeça, ponta, cabeça... [Ele diz "ponta" apontando prum lado e "cabeça" apontando pro outro, ligeiro, se divertindo.]

[Ela, que tinha acabado de entrar, sai, com passos tão firmes, decididos, irritados e imponentes que sei lá, batendo a porta. Ficam de mal uma semana. Voltam a se falar quando ela liga pra perguntar "algo nada a ver com ele mas que ela precisava saber pra poder não sei o quê" e daí quando viram estavam se falando de novo.]

-Mas o que que tu tinha aquele dia, hein?

=Que dia?

-O que tu queria pendurar na árvore.

=Nossa! Na árvore mais alta do penhasco mais profundo da caverna mais... ...da PIOR caverna de todas! [Dentes cerrados, olhos forçados procurando a árvore, o penhasco e a caverna através da janela. Ele descascava uma pera.]

-Sabe que na minha família sempre descascamos TODAS as frutas?

=Henrique, eu vou te ignorar e continuar contando o que eu tava contando, senão vai ser mais uma semana sem nos falarmos, mais uma semana de abstinência sexual, e eu sei que tu não quer isso, porque sexo é muito importante pra ti, tu tá louco de vontade de fazer, mas tem orgulho de admitir isso, mas passou essa semana inteira querendo e só agora resolveu ligar, porque não agüentou de vontade, até porque a tua menstruação acabou de passar completamente, -- [Dalila se dá conta de que ele deve ter percebido que ela fala de si mesma e não dele, entregando o jogo. Ele contém o riso de satisfação e também o riso pela situação ridícula.]

-Mas então, o que houve nesse dia tão ruim, Lila?

[Ela pensa "ainda bem que o idiota não percebeu" e contém o riso.]

=Eu tava cantando Lineoleum, do NOFX, sabe? Cantando não, cantarolando, sei lá. A Sara ouviu eu cantando. [Nesse momento Henrique volta sua atenção totalmente pra sua memória das coxas da Sara.]

-E aí?

=Aí eu disse pra ela que essa música mexe muito comigo, é uma das minhas preferidas, me remete a lembranças importantes da minha vida.

-Ãn. [Ele vai imaginando suas mãos subindo pela parte interna daquelas coxas, mas é péssimo em fingir prestar atenção.]

=Henrique! Tá prestando atenção?

[Ele tem certo bloqueio em mentir, porque mente muito mal, é o pior mentiroso do mundo, entao só enrola, porque nisso ele é craque:]

-Prestando atenção? Ora! Mas claro que... Pô! Atenção, né. ["Um craque", pensou.]

=E aí ela perguntou sobre o que é a música!! Viu, Rico, como as pessoas são comigo? Eu sou má pra alguém? Sou? Mereço maldade? Mereço?

-Mas meu Deus! Sobre o que era a tal da música então?

=MAS É EM INGLÊS!! COMO É QUE EU VOU SABER?!? Mas tu também! Grrrrah!! [Grunhido de chacal furioso era a marca registrada dela.]

[Passos firmes, bate a porta, uma semana, ligação nada a ver mas necessária, voltam a se falar.]

-Sabe que a Coca-Cola fica tremendamente melhor se acrescentado outro ingrediente, mas eles guardam esse segredo pra se um dia estiverem falindo.

=Vai levar mais uns 100 anos então?

-Por aí. Mas diz que esse tal ingrediente é algo bem simples, simplíssimo.

[A idéia amadurece na cabeça dos dois e eles trazem do super 8 garrafas de Coca e várias coisas bem simples, e em cada garrafa tentam uma mistura. Na 8ª garrafa, a frustração faz qualquer coisa ser motivo pra briga.]

=Ah mas vai à merda com esse COENTRO! Idéia de imbecil MESMO. Só podia né.

-Tá me chamando de imbecil?

=Não. [Falou ela, dizendo que sim.]

-Mas acho que não fui eu quem tentou o OVO. Ovo na Coca-Cola. O que que vem depois de imbecil mesmo?

=E o que que é mais simples do que um ovo?

-Mas e daí que é simples, mulher?

=A receita dizia que tinha que ser simples!

-Mas que receita?!?

=Essa da Coca, ué! Ou tu tirou essa história toda da onde?

-Ué, me pareceu lógico, não sei...


[Ela bufou, chegou a virar pra porta pra sair, mas voltou e disse:]

=Olha aqui, Henrique: eu só não saio por essa porta porque sei que TU não agüentaria mais uma semana sem sexo!







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